Mais orçamento, participação social e políticas públicas fizeram jus à dimensão estratégica da Cultura para o país
Mais brasileiros produzindo e conquistando cada vez mais acesso a bens culturais. Este foi o resultado dos 13 anos de governos Lula e Dilma, que legaram ao Brasil, pela primeira vez na história, uma autêntica política de Estado para a cultura. O valor investido quadruplicou, passando de R$ 654 milhões, em 2003, para R$ 2,6 bilhões, em 2015.
Três Conferências Nacionais de Cultura garantiram participação e voz ativa à sociedade civil. A 3ª Conferência, realizada em 2013, teve ampla mobilização, com etapas nos 26 Estados e no Distrito Federal. Mais de 4,5 mil pontos de cultura brotaram pelo país afora, fomentando a expressão cultural das comunidades. Mais e melhores bibliotecas públicas foram semeadas pelos quatro cantos do Brasil, entre outras medidas, como o Vale Cultura aos trabalhadores, salas de cinemas e núcleos de cultura em 4.823 instituições de ensino.
Novas diretrizes foram seguidas, reconhecendo a grandeza e a complexidade cultural do país. A democratização do acesso a bens, equipamentos, produtos e serviços culturais, a descentralização, a regionalização e a interiorização de políticas, além do reconhecimento da cultura como parte relevante da economia brasileira foram alguns dos eixos que passaram a nortear as ações do poder público.
Em 2005, o Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC) foi reestruturado para fortalecer seu papel na formulação de políticas públicas. É ele quem articula os diferentes níveis de governo e sociedade civil organizada e também fiscaliza e avalia políticas públicas.
O Plano Nacional de Cultura (PNC), instituído por meio da Lei nº 12.343/10, sancionada em dezembro de 2010, foi também outro importante legado para o setor cultural. Aprovado durante o governo Lula, o PNC surgiu com o objetivo de nortear as políticas culturais brasileiras até o ano de 2020. Ao final do período de vigência, o prazo foi prorrogado por mais dois anos. Entre as metas estabelecidas pelo Plano estão a profissionalização de gestores e agentes culturais, descentralização da implementação das políticas públicas de cultura, reconhecimento e valorização da diversidade cultural, étnica e regional brasileira, entre outras iniciativas. Em julho de 2022, o PNC foi prorrogado novamente até o fim de 2024, por meio da Medida Provisória 1.129/2022.
A Cultura, definitivamente, entrava para o mapa e se tornava parte fundamental da reconstrução do país. Com o golpe de 2016, a Cultura foi uma das áreas mais atacadas, perdeu o status de ministério para virar uma secretaria na pasta do Turismo.
Programa Cultura Viva ampliou o acesso da população aos direitos culturais. | Foto: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil
Política Nacional de Cultura permitiu fortalecimento de grupos culturais das comunidades
O que era bom, os governos do PT ajudaram a melhorar. Criado por Lula em 2004, o Programa Nacional de Cultura, Educação e Cidadania (Cultura Viva) tornou-se Política de Estado. Isso garante a continuidade das ações do programa, independente das alternâncias de gestão na administração pública.
Sancionada por Dilma em 2014, a Política Nacional de Cultura Viva tem como principal objetivo a ampliação do acesso da população brasileira aos seus direitos culturais, mediante o fortalecimento das ações de grupos culturais já atuantes na comunidade.
Os principais instrumentos de aplicação da nova Lei são os Pontos de Cultura (entidades culturais sem fins lucrativos que desenvolvem ações culturais continuadas nas comunidades locais); os Pontões de Cultura (espaços culturais ou redes regionais e temáticas que articulam os Pontos de Cultura) e o Cadastro Nacional de Pontos e Pontões de Cultura (composto pelos grupos que desenvolvem ações culturais e possuem certificação dada pelo Ministério da Cultura).
Os objetivos da Política Nacional de Cultura Viva são:
Em setembro de 2003, o então ministro da Cultura de Lula, Gilberto Gil tocou “Toda menina baiana” com o ex-secretário geral da ONU e Nobel da Paz, Kofi Annan.
DESTAQUES
Política cultural
Com mais investimentos, Lula e Dilma fizeram política de fomento e apoio à produção cultural
Em 2003, o Governo Lula encontrou um Ministério da Cultura enfraquecido, com baixo orçamento e uma atuação que não apresentava características de política pública. Apesar da grandeza e da diversidade cultural do país, o MinC era um ministério pouco relevante.
Foi necessário, urgentemente, criar planos, programas e metas para democratizar, federalizar e interiorizar as ações. Só assim o Estado passaria a desempenhar um papel realmente importante na área da Cultura.
Com Lula e Dilma, as políticas culturais foram idealizadas e planejadas com base em três dimensões: simbólica, cidadã e econômica.
Simbólica, porque a cultura ajuda a nos identificarmos como partes de uma mesma Nação.
Cidadã, porque ela é uma necessidade humana e um direito básico, assim como saúde, educação, alimentação e moradia.
conômica, porque a economia criativa da cultura está aí, presente no dia-a-dia, movimentando recursos, ações e empreendimentos capazes de promover inclusão, produção e difusão cultural, garantindo trabalho e gerando renda para milhões de brasileiros.
Com o aumento orçamentário e um novo direcionamento político, o governo federal passou a ter papel muito mais ativo no cenário cultural, indo além de renúncias fiscais para a produção de projetos. O objetivo passou a ser mais abrangente, instituindo uma política de fomento e apoio à produção cultural, através do reconhecimento do agente cultural como protagonista de seus saberes e fazeres, com voz, espaços e meios, superando o período excludente da “política de balcão”.
Com Lula e Dilma, a Cultura foi tratada como uma necessidade humana e um direito básico. | Foto: IberCultura
Ações promovidas em áreas antes carentes de atenção ampliaram acesso do povo à cultura
Com Lula e Dilma, o Ministério da Cultura, pela primeira vez desde a redemocratização, passou a olhar para a diversidade da identidade cultural brasileira. A política cultural estendeu-se de Norte a Sul, de Leste a Oeste, inserindo produtores, técnicos e gestores culturais antes ignorados, além de garantir acesso à cultura para milhões de brasileiros que ascenderam socialmente nos últimos anos.
Foram, durante 13 anos, ações inovadoras em áreas tradicionais como cinema, teatro, dança e literatura, mas também em setores antes carentes de atenção do Estado, como artes visuais, museus, cultura popular, design, culturas dos povos indígenas e afro-brasileiros, moda, artesanato e circo, entre outras.
Conferências nacionais mobilizaram comunidade artística e ajudaram a traçar diretrizes da política cultural. | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
Adesão ao sistema permitiu o fortalecimento da diversidade
Inspirado no modelo do Sistema Único de Saúde, o Sistema Nacional de Cultura (SNC) passou a fazer parte da Constituição Federal desde 2012. Política de Estado estruturante, que levou recursos federais para projetos culturais em mais de 2 mil municípios brasileiros, o SNC prevê que todas as esferas da Federação devem criar órgãos gestores da cultura; conselhos de política cultural; conferências de cultura; comissões intergestores; planos de cultura; sistemas de financiamento à cultura; sistemas de informações e indicadores culturais; programas de formação na área da cultura; e sistemas setoriais de cultura.
A adesão ao Sistema Nacional de Cultura pelos entes federados se dá voluntariamente. Os estados e municípios que concordam em integrar-se ao SNC assinam com a União o Acordo de Cooperação Federativa, que estabelece os compromissos entre as partes para a efetiva implantação do Sistema. Todos os Estados da Federação e mais de 2.000 municípios já estão integrados ao SNC.
Até 2016, Programa Rede Incubadoras Brasil Criativo realizou mais de 30 mil atendimentos
Criada em 2012 pelo governo Dilma, a Secretaria da Economia Criativa (SEC) teve como missão contribuir para que a cultura se tornasse um eixo estratégico nas políticas públicas de desenvolvimento do Estado brasileiro, priorizando o apoio e o fomento aos profissionais e aos micro e pequenos empreendimentos criativos.
Com investimentos de R$ 40 milhões, o Programa Rede Incubadoras Brasil Criativo realizou mais de 30 mil atendimentos até 2016 e ofereceu, gratuitamente, cursos e consultorias, planejamento estratégico, assessoria contábil, jurídica e de comunicação, marketing, elaboração de projetos e captação de recursos, além de acompanhamento contínuo. Após o golpe contra a presidenta Dilma, o programa parou.
Sistema Nacional de Cultura beneficiou projetos culturais nos mais de 5 mil municípios brasileiros. | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
DESTAQUES
Cultura e cidadania
Espaços contam com biblioteca, cineteatro e laboratório multimídia
Programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços sócio-assistenciais, políticas de prevenção à violência e inclusão digital. Tudo integrado, num mesmo espaço físico. Para promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social, o Governo Dilma incluiu no PAC 2 as Praças dos Esportes e da Cultura, que depois passaram a se chamar Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUs).
O projeto de Dilma previa a construção de pelo menos 357 CEUs, com unidades que foram inauguradas em todas as regiões do país, com investimento do governo federal e contrapartida das prefeituras. Entre 2012 e 2016, 88 centros começaram a funcionar.
Os centros contam com biblioteca, cineteatro, laboratório multimídia, salas de oficinas, espaços multiuso, Centro de Referência em Assistência Social (CRAS), além de pista de skate. Os CEUs maiores (3 mil e 7 mil m²) também contam com quadra de eventos coberta, playground, pista de caminhada.
Segundo dados do site da Secretaria Especial de Cultura, em abril de 2022, estavam em construção 331 CEUs, com 179 unidades já inauguradas nas cinco regiões do país.
Centro das Artes e Esportes Unificados do Recanto das Emas, no DF. O local reúne equipamentos como teatro, biblioteca, quadra poliesportiva, pista de skate e playground. | Foto: Dênio Simões/Agência Brasília
Com programa Mais Cultura nas Escolas, acesso à cultura foi potencializado
Alcides de Lima é criador do “Minha História”, projeto de contação de histórias da favela São Remo, em São Paulo. Pelo projeto, crianças contam suas próprias histórias, com orientação de Alcides, que desde 2000 ensina cultura tradicional na Escola Municipal Desembargador Amorim Lima. Já Lucilene da Silva ministra oficinas de arte e cultura brasileiras para alunos da escola pública Esmeralda Becker Freire de Carvalho, em Carapicuíba, cidade localizada a menos de 30 km da capital paulista.
Além de educadores, Alcides e Lucilene têm mais uma coisa em comum: ambos foram beneficiados pelo programa Mais Cultura nas Escolas, uma parceria entre os Ministérios da Cultura e da Educação. O objetivo do Programa é potencializar processos de ensino e aprendizado por meio da democratização do acesso à cultura e da integração de práticas criativas e da diversidade cultural brasileira à educação integral.
Parceria entre MinC e MEC potencializou acesso à cultura
O Mais Cultura nas Escolas, entre 2014 e 2015, contemplou 5 mil projetos, atingindo cerca de 2 milhões de estudantes, com investimento de R$ 100 milhões em sua primeira etapa. Cada projeto selecionado recebeu entre R$ 20 mil e R$ 22 mil do Programa Dinheiro Direto na Escola, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, para desenvolver as atividades culturais em 2014.
Os nove eixos temáticos estabelecidos pelo Mais Cultura na Escola foram: Criação, Circulação e Difusão da Produção Artística, Cultura Afro-Brasileira, Promoção Cultural e Pedagógica em Espaços Culturais, Educação Patrimonial, Tradição Oral, Cultura Digital e Comunicação, Educação Musical, Culturas Indígenas, Residências Artísticas para Pesquisa e Experimentação nas Escolas.
Programa Mais Cultura nas Escolas democratizou o acesso à cultura e beneficiou 2 milhões de estudantes. | Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil
Programa de bibliotecas rurais facilitou a leitura em quilombos, assentamentos e comunidades da agricultura familiar
Criado em 2003, sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Programa de Bibliotecas Rurais Arca das Letras vem contribuindo, mesmo após o desmonte da Cultura a partir do golpe de 2016, para o acesso da população rural à leitura.
O Arca das Letras atua na democratização do conhecimento junto às comunidades beneficiadas pelo Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF), assentados da reforma agrária, comunidades de pescadores, quilombolas, indígenas, extrativistas, populações ribeirinhas e os Centros Familiares de Formações por Alternâncias (CEFFA’s).
Com o Arca das Letras, mais de 11 mil bibliotecas foram implantadas em todo o Brasil. | Foto: Paulo Gonçalves de Azevedo Jr / MinC
Acervo do Arca das Letras inclui literatura infantil, romance e poesia
Até maio de 2016, foram implantadas mais de 11 mil bibliotecas em todo o Brasil, beneficiando 1,3 milhão de famílias. O acervo do Arca das Letras somou mais de 2,4 milhões de livros até 2016, com obras de literatura infantil, romance, poesia e diversas outras.
Cada biblioteca piloto tem cerca de 270 livros obtidos por doação. A estrutura móvel de madeira é fabricada por trabalhadores sentenciados em penitenciárias. Os próprios moradores escolhem duas ou mais pessoas como gestores, que atuam voluntariamente como agentes de leitura.
Em novembro de 2006, o programa foi expandido para englobar o Programa Bibliotecas Famílias Agrícolas (BiblioEFAs), focado em ampliar ou implantar as bibliotecas das Escolas Famílias Rurais.
O Arca das Letras contou com uma rede de parcerias nas esferas governamentais, não governamentais e sociedade civil para a confecção de móveis e doação de acervos bibliográficos. Em 2009, recebeu menção honrosa no Prêmio Vivaleitura pela “abrangência e relevância” na promoção da leitura.
Bibliotecas de madeira, com cerca de 270 livros, ampliaram o acesso à educação e à cultura. | Foto: Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA)
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Pontos de cultura
Criado em 2004, Cultura Viva tornou-se política de Estado aos 10 anos de existência
Responsável pela realização de uma verdadeira revolução na forma de se fazer política pública cultural no Brasil, o programa Cultura Viva foi criado em 2004 e desde 2014 passou a ser uma política de Estado. A Lei 13.018 instituiu a Política Nacional de Cultura Viva, que simplificou e desburocratizou a iniciativa.
Desde sua implantação, mais de 4,5 mil Pontos e 160 Pontões de Cultura foram fomentados em todo o país.
O Cultura Viva foi criado pelo governo Lula para valorizar as iniciativas culturais de grupos e comunidades, ampliando o acesso aos meios de produção, circulação e fruição de bens e serviços culturais. A relação Estado e sociedade se concretiza nos Pontos de Cultura, que formam uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas culturais. De 2005 a 2015, foram destinados R$ 1,1 bilhão, em valores de 2021, para a promoção de atividades culturais nos Pontos e Pontões de Cultura.
Encontro Nacional dos Pontos e Pontões de Cultura, a Teia foi oportunidade para apresentar trabalhos, debater cultura e propor novas ações para as políticas públicas. | Foto: Henrique Crasto
Parceria entre governo federal e parceiros públicos e privados financia o programa
O financiamento dos Pontos de Cultura se dá por meio de recursos do governo federal e de parceiros públicos e privados, selecionados por meio de editais públicos, lançados pelo Ministério da Cultura, governos estaduais e municipais ou por outras instituições. A adesão à rede é voluntária.
Outras linhas de fomento a Pontos de Cultura também são possíveis: Pontos de Leitura, Pontinhos de Cultura, Pontos de Memória, Pontos de Cultura Indígena e Pontos de Bens Registrados como Patrimônio Imaterial.
O Cultura Viva foi reformulado em dezembro de 2013. Entre as principais mudanças está o reconhecimento, como Pontos de Cultura, de grupos e coletivos sem personalidade jurídica, que desenvolvam atividades culturais em suas comunidades. Essa decisão permite ampliar significativamente a base de beneficiários do programa, considerando que muitos grupos culturais não possuem CNPJ – caso das comunidades quilombolas e indígenas e de vários grupos de cultura popular e tradicional.
Programa surgiu para financiar e apoiar grupos de cultura em todo país
Os Pontões de Cultura foram criados para divulgar, dar apoio aos pontos de uma região e integrá-los com os Pontos globais da rede Cultura. Eles são organizações com fins lucrativos ou entidades sem fins lucrativos criadas para fins culturais.
Os grandes pontos estão autorizados a receber até R$ 500 mil em investimentos públicos para desenvolverem seus programas, adquirir equipamentos e reformar suas instalações físicas.
Cinco edições nacionais do encontro de pontos e pontões da cultura foram realizadas entre 2006 e 2014
Encontro nacional dos Pontos e Pontões de Cultura, a Teia foi também o encontro das diversas representações do Brasil plural. O evento foi a oportunidade para apresentar trabalhos, trocar experiências e informações, debater a cultura brasileira, além de propor novas ações, melhorias e estratégias para as políticas públicas do setor.
Foram realizadas cinco edições nacionais do encontro, em 2006 (São Paulo), 2007 (Belo Horizonte), 2008 (Brasília), 2010 (Fortaleza) e 2014 (Natal). Desde o golpe que tirou Dilma do poder, a falta de recursos e atenção destinados à cultura fizeram a iniciativa retroceder, e nenhuma outra Teia foi realizada.
Teia da Diversidade em Natal (RN), em 2014. | Foto: EBC
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Vale cultura
Vale-Cultura foi criado para democratizar ainda mais o acesso à cultura
Criado em 2013, o Vale-Cultura é um benefício de R$ 50 mensais concedido aos trabalhadores com renda de até cinco salários mínimos para ser, exclusivamente, utilizado no consumo de produtos e bens culturais como peças de teatro, cinema, exposições em museus, espetáculos, shows, circo, CDs, DVDs, instrumentos musicais, livros, revistas e jornais.
O benefício pode ser usado também para pagar mensalidades de cursos de artes plásticas, audiovisual, dança, circo, fotografia, música, literatura ou teatro. Caso o trabalhador optasse por não usar todo o benefício no mesmo mês, o crédito seria cumulativo e sem prazo de validade. Quem aderisse ao programa teria um desconto máximo em folha de pagamento de 10% (R$ 5).
Em 2015, o benefício atingiu 468,3 mil trabalhadores, fomentando as cadeias produtivas da cultura em todo o território nacional. Em 2016, foram 520,5 mil, em 2018, 551,7 mil e em 2019, 561,3 mil. O crescimento estagnou após o governo Temer retirar a possibilidade de as empresas participantes deduzirem até 1% no Imposto de Renda devido.
Até 2016, Vale-Cultura beneficiou 520,5 mil trabalhadores em todo o Brasil. | Foto: Luciana Avellar/MinC
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Todas as telas
Brasil de Todas as Telas expandiu mercado interno e universalizou acesso da população ao audiovisual
O maior programa de apoio à produção audiovisual já implementado no Brasil. Lançado em julho de 2014 pela presidenta Dilma, o Brasil de Todas as Telas foi o maior não apenas em volume de recursos, mas também pelo conjunto de iniciativas envolvidas, pois abrangia toda a cadeia produtiva do audiovisual, desde a criação do roteiro, até a ampliação e a modernização do parque exibidor, passando pela produção e difusão, e pelo incentivo à pesquisa.
O objetivo do programa era expandir o mercado interno, universalizar acesso da população aos serviços audiovisuais, com investimento na produção, distribuição e programação de conteúdos, e transformar o Brasil em um dos cinco maiores centros no mundo para produção e programação de conteúdos audiovisuais.
Entre outras ações, o Brasil de Todas as Telas ofereceu 5 mil bolsas para formação e capacitação profissional. Também foram oferecidos cursos de nível técnico em parceria com o Ministério da Educação, por meio do Pronatec Audiovisual.
O programa ainda existe, mas sem a mesma força dos tempos de Lula e Dilma.
Presidenta Dilma durante lançamento do Brasil de Todas as Telas. | Foto: Roberto Stuckert
Entre 2003 e 2016, número de filmes nacionais lançados passou de 30 para 142
Entre 1998 e 2002, a média de lançamentos de longa metragens nacionais era de 26,6 filmes/ano. No período de 2009 a 2016, essa média subiu para 107,4 lançamentos/ano. E não parou por aí. O ano de 2016, o último do governo Dilma, foi histórico para o cinema nacional, com recorde de público, o maior desde a chamada retomada do cinema brasileiro em 1995. Foram 30,4 milhões de espectadores. O número de lançamentos também foi, até então, o maior da história: 142 estreias nacionais.
Ou seja, ocorreu uma mudança radical no cenário do cinema brasileiro que se implantou no início dos anos 1990, quando o número de ingressos vendidos despencou de 20 milhões, em 1989 (18% do mercado), para 36 mil em 1992 (0,05%). Neste período de três anos, a quantidade de produções anuais, que já era baixa, também sofreu uma queda severa: de 17 para 3.
Apesar do financiamento público – por meio da Lei do Audiovisual – ter garantido a retomada do crescimento da produção cinematográfica em meados da década de 1990, o cinema brasileiro ainda contava com gargalos sérios, como o desaparecimento gradual das salas de cinema, a fraca distribuição para os filmes independentes e a falta de acesso da população ao conteúdo produzido no país.
O número de filmes nacionais lançados no Brasil saltou de 30, em 2003, para 142, em 2016. E o de séries, de 4 para 691. Lula e Dilma mudaram o roteiro e reescreveram a história.
Presidente Lula filma convidados após cerimônia de lançamento do Programa Brasileiro de Cinema e Audiovisual. | Foto: Ricardo Stuckert
Em 2016, foram mais de 180 milhões de bilhetes vendidos pelo mercado das salas de exibição
Entre 2009 e 2016, o número de salas de exibição de cinema cresceu de 2.110 para 3.160 em todo o país. Em grande medida, o crescimento teve a ver com o Programa de Incentivo à Qualidade do Cinema Brasileiro, lançado em 2011, com o objetivo de ampliar o mercado interno e acelerar a construção de salas de cinema em todo o Brasil.
Dirigido pelo Ancine, em parceria com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), a iniciativa apoiou a expansão das salas de cinema em bairros de classe média e nas periferias das grandes cidades, com o objetivo de servir as chamadas classes C e D da população. Os resultados foram significativos. Em 2016, o mercado de salas de exibição totalizou 184 milhões de bilhetes vendidos e uma receita de R$ 2,6 bilhões, os maiores níveis das últimas duas décadas.
Diversificação do financiamento resultou em mais produção e mais audiência
Em 2003, no início do governo Lula, o Ministério da Cultura começou a considerar a cadeia de produção audiovisual como uma indústria inteira, incluindo a produção e profissionalismo de seus agentes, os expositores do circuito de ramificação e da criação de uma estrutura para a disseminação independente de produções culturais brasileiras. O resultado foi um aumento na produção, graças à diversificação das fontes de financiamento. O crescimento das audiências também foi notável.
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Desmonte
Com Bolsonaro, guerra contra o setor é também ideológica
Após o Golpe de 2016, a área da Cultura foi uma das áreas mais atacadas pelos governos conservadores. Primeiro, Temer decidiu acabar com o Ministério da Cultura. Graças à forte oposição da comunidade cultural, a medida foi revertida em maio de 2016. Mas as políticas públicas não foram retomadas em sua plenitude.
Em 2019, Bolsonaro concluiu o que Temer havia começado e rebaixou o ministério a uma mísera secretaria dentro do Ministério da Cidadania. No ano seguinte, o governo transferiu a secretaria para o Ministério do Turismo. Em 2021, a despesa federal com Cultura foi de apenas R$ 1,1 bilhão. Esse valor, corrigido pela inflação, representa menos da metade do que Dilma investiu seis anos antes, em 2015: R$ 2,6 bilhões, em valores corrigidos pela inflação (R$ 1,9 bilhão nominal).
Dois grandes incêndios evidenciaram o descaso com a Cultura após o golpe de 2016. Em 2018, o fogo no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruiu um dos principais acervos da América Latina. Em 2021, foi na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, e queimou filmes, documentos e materiais impressos do acervo. Ambas tragédias anunciadas por consequência da falta de manutenção e gestão governamentais, frutos de um desprezo pela Cultura.
episódio de ataque à Cultura. Em junho de 2021, a Presidência da entidade informou que 54% dos livros do acervo seriam removidos da biblioteca por terem seu conteúdo considerado ideologicamente inadequado. Após intensa mobilização de movimentos sociais, o processo de descarte dos livros foi suspenso por meio de uma liminar da Justiça, que estabeleceu multa de R$ 500 por item doado.
Em 2021, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) teve o menor orçamento dos últimos 10 anos. Segundo dados da plataforma Siga Brasil, as verbas para preservar cidades históricas tiveram queda de R$ 143 milhões em 2019 para R$ 26 milhões em 2021, uma redução de 81%.
O setor enfrentou ainda o veto de Bolsonaro à Lei Aldir Blanc (Lei 14150/2020), criada para promover ações emergenciais destinadas ao setor cultural em decorrência dos efeitos econômicos e sociais da pandemia da Covid-19. Com muita luta, o Congresso derrubou o veto e a lei foi promulgada em julho de 2022. No final de Agosto, Bolsonaro editou uma medida provisória que adia por até cinco anos os repasses das leis Aldir Blanc 2 e Paulo Gustavo.
Com Bolsonaro, foi adotada política de terra arrasada na cultura. | Foto: Tânia Rego/Agência Brasil
É verdade que o orçamento da Cultura aumentou muito com Lula e Dilma?
Um dos sinais de que a Cultura passou a ser encarada como política pública relevante para o Governo Federal está no aumento do investimento em cultura no período de 2003 até 2015: de uma despesa executada de R$ 244 milhões, em 2003, para R$ 1,9 bilhão em 2015. Em valores corrigidos pela inflação para 2021, o aumento foi de R$ 654 milhões para R$ 2,6 bilhões em 2015.
Qual a novidade nas políticas de Cultura em relação ao que era feito antes dos governos do PT?
Em 2003, a partir da primeira gestão de Lula, até maio de 2016, depois de sua segunda gestão e depois da gestão de Dilma Rousseff, pode-se dizer que o Estado brasileiro passou a cumprir seu dever de colocar em prática políticas públicas culturais de fato. Foi reconhecida a grandeza e a complexidade cultural do País, e novas diretrizes foram tomadas. Ficou para trás a chamada “política de balcão”, na qual se priorizava e incentivava basicamente a renúncia fiscal para promoção de atividades e produtos culturais, privilegiando principalmente grandes produtores e o eixo Rio-São Paulo. A política cultural do então novo governo focou na democratização do acesso a bens, equipamentos, produtos e serviços culturais; na descentralização de políticas bem como a sua regionalização e interiorização; e no reconhecimento da Cultura como um segmento relevante da economia brasileira.
O que é o Vale-Cultura?
O Vale-Cultura foi um benefício de R$ 50 mensais concedido aos trabalhadores com renda de até cinco salários mínimos que deveria ser exclusivamente utilizado para consumo de produtos e bens culturais: peças de teatro, cinema, exposições em museus, espetáculos, shows, circo, na compra de CDs, DVDs, instrumentos musicais, livros, revistas e jornais. O benefício poderia ser usado também para pagar a mensalidade de cursos de artes, audiovisual, dança, circo, fotografia, música, literatura ou teatro. As empresas que ofereciam o benefício aos seus funcionários tinham permitida a dedução de até 1% do imposto de renda devido. Esse incentivo fiscal foi interrompido pelo governo Bolsonaro.
O que é o Vale-Cultura?
O Vale-Cultura foi um benefício de R$ 50 mensais concedido aos trabalhadores com renda de até cinco salários mínimos que deveria ser exclusivamente utilizado para consumo de produtos e bens culturais: peças de teatro, cinema, exposições em museus, espetáculos, shows, circo, na compra de CDs, DVDs, instrumentos musicais, livros, revistas e jornais. O benefício poderia ser usado também para pagar a mensalidade de cursos de artes, audiovisual, dança, circo, fotografia, música, literatura ou teatro. As empresas que ofereciam o benefício aos seus funcionários tinham permitida a dedução de até 1% do imposto de renda devido. Esse incentivo fiscal foi interrompido pelo governo Bolsonaro.
O que são os Pontos de Cultura?
Os Pontos de Cultura são uma ação do programa Cultura Viva, criado em 2004, na primeira gestão do governo Lula, para fortalecer o protagonismo cultural na sociedade brasileira, valorizando as iniciativas culturais de grupos e comunidades, ampliando o acesso aos meios de produção, circulação e fruição de bens e serviços culturais. Nos Pontos de Cultura, se concretizou a relação entre Estado e Sociedade. Organizados, eles formaram uma rede horizontal de articulação, recepção e disseminação de iniciativas culturais. O financiamento se deu por meio de recursos do Governo Federal e de parceiros públicos e privados, por meio de convênios, bolsas ou prêmios concedidos através de chamamento público.
Existe alguma política cultural relacionada à Educação?
Sim. O governo Dilma criou em 2012, por meio de uma parceria entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, o programa Mais Cultura nas Escolas. O objetivo era potencializar processos de ensino e aprendizado por meio da democratização do acesso à Cultura e da integração de práticas criativas e da diversidade cultural brasileira à educação integral.
O que são os Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUs)?
Os CEUs são centros que integram, num mesmo espaço físico, programas e ações culturais, práticas esportivas e de lazer, formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços sócio-assistenciais, políticas de prevenção à violência e inclusão digital, de modo a promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras.
Teoria e Debate – Política Cultural para o Brasil
A produção audiovisual brasileira - Brasilianas.org
Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2016
Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2019
Política Nacional de Cultura Viva
Política Nacional de apoio aos 'pontos de cultura'